segunda-feira, 31 de maio de 2010

Para viver um grande amor

Vinícius de Moraes

"(...)É muito necessário ter em vista
um crédito de rosas no florista
— muito mais, muito mais que na modista!—
para aprazer ao grande amor.

Pois do que o grande amor quer saber mesmo
é de amor, é de amor, de amor a esmo;
depois, um tutuzinho com torresmo
conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas:
ovos mexidos, camarões, sopinhas,
molhos, strogonoffs — comidinhas
para depois do amor.

E o que há de melhor que ir pra cozinha
e preparar com amor uma galinha
com uma rica e gostosa farofinha,
para o seu grande amor?(...)"

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Símbolos

por Renata Luciana


"ensina-me a subir o rio e a olhar com a transparência da água..."

dos afagos









de um leve toque
adentro os seus cabelos
com as pontas dos meus dedos

depois encho as mãos
dos negros fios que afinam
num tênue e longo afago
enquanto os outros pelos
se eriçam de inveja
fazendo-lhe calafrios

e então desembaraçamos
os nós dos desejos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A contração de dois aa

 cruzei caminhos entre a saudade e a solidão
no mar do esquecimento fiz morada
não importa,
hoje você me ensinou a acentuar o amor
toma-me e aquece-te
é tua a minha noite mais delicada

[por Renata Luciana]

sábado, 22 de maio de 2010

Poesia e prosa

Ribeiro Pedreira

O que a poesia uniu
a 'prosa' não separe

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pelos dias


Amanhece. A cama ainda repleta do seu cheiro me desperta pra mais um dia. Mais um dia é menos um na distância. Sinto o entardecer quando tuas mãos, por uma brisa leve afaga meu rosto e se afasta cantarolando uma ciranda às folhas que bailam na roda da sua saia.
Fecho os olhos e já é noite. É tão nossa que me basta fechar os olhos a qualquer momento.

quarta-feira, 19 de maio de 2010




















e quando abraço vira abrigo, deixa aquecer.

terça-feira, 18 de maio de 2010




















É noite mas tá fazendo sol
Nos encontramos sempre no ar

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Das minhas mãos.

Minhas mãos se recusam a segurar qualquer caneta.
Vivem abertas, espalmadas, ocupadas em apertar, em acariciar outro par de mãos, outros caminhos. A muito custo, consegui liberá-las para escrever esta carta que certamente chegará até você, embora talvez eu chegue antes, ainda que sem embrulho.
A foto que a acompanha não está muito boa porque foi feita no calor do momento, mas é pra que você compreenda meus argumentos e veja se reconhece esta mão que se deita sobre a minha.

Meus carinhos!!!

Sempre seu,

Cartas que embrulham segredos


















Há dias as cartas não chegam pelo correio


- como vão tuas mãos?

vontade de fazer um embrulho de mim, com papel de seda e mandá-lo para você. Aceita? Tenho pouco papel e não há jeito de arranjar mais estou com saudades de você

Um abraço da sua,


domingo, 16 de maio de 2010

Florboleta

Ribeiro Pedreira













Pousaste na minha vida
para polinizar os meus sonhos
e me perfumar os dias

Calmaria

Ribeiro Pedreira

Veste-se a noite de prata
ao léu da lua branca
que tua íris reflete
em cacos híbridos de poesia

e o medo da noite cala
num raio de sombra.

Simetria

Renata Luciana


[A]simetria

veste

teu rosto

compõe

os teus


lados

escuto o teu avesso

A

B

disco de vinil




enquanto minha pele for música

meu corpo dança

harmônico

Resina de sol

luz verde

Cúmplice

Renata Luciana

Era verão e você entrou em meu blog. Leu todos os meus textos e girou. Efeito colateral. O que eu fiz em você sem saber? O que você fez em mim depois sabendo? Tudo, muito. E assim começou e não sei onde irá terminar. Falo com você ao telefone todas às noites, e seguimos entre torpedos e webcam. Você fala sobre sua vida; eu digo sobre a minha. Você escreve poemas; eu escrevo meus afetos. Eu apresentei à família a você; você mostrou minhas fotos para sua família, seus amigos. Você canta, sorri, eu ouço, alegre. Discutimos sobre amor, e a vida; divagamos sobre o passado que não existe, o presente que nos consome, o futuro que nos engloba. Você viaja nas asas de uma águia para minha cidade; eu viajo para a sua.Você me quer, eu te desejo. Você é 'cheff '; eu esquento o pão. Você é meu complemento; eu sou seu suplemento. Fazemos sexo. Brincamos. Ardemos. Você tem um jeito que eu gosto. Eu olfativa, acompanho rastros de perfumes, você molhou o corpo em nova essência. Lê minhas palavras soltas, se ‘entrega’, na entrega, e nos juntamos nesse ‘estado’. Ficamos com saudades; comemos a saudade. Choramos juntos. Seu cérebro armazena letras de música; eu observo, leio, assisto filmes concentrada; você se excita nos filmes e me excita. Você quer me respirar; eu quero-lhe transpirar. Inspirar e respirar. Fazemos amor. Você goza, eu gozo, nós gozamos. Eu sou doce como bala; você chupa a bala até com papel. Você é intenso; eu sou profunda. Eu recebo cantadas idiotas; você recebe elogios suspeitos. Eu sou Renata, Luciana, e todas as mulheres ocultas em minha pele; uma tribo na sua vida, um rizoma. Somos nômades por excelência. Eu focada; você disperso. Eu fico molhada; você ensopado. Eu cuido do meu jardim; você me apresenta a flora. E é tanto céu e tanto ar, que nos lançamos na imensidão.

"A soma de dois é um"

Ribeiro Pedreira

De longe eu achava que era tudo, mas suavemente fui me aproximando e a percebi muito mais que isso... Não tinha o aroma do mais imbatível perfume. Era o cheiro da primavera que se lhe exalava e me penetrava por todos os poros.
Abraçamo-nos pela primeira vez ainda manhãnzinha, no entanto, o que eu sentia era o sol me enlaçando naquele instante sem par.
Seus lábios incrivelmente derretiam em minha boca feito um caramelo eterno, enquanto eu acariciava uma pétala gigante ao longo do seu corpo. E todo mistério que havia foi sendo desvendado num turbilhão de sentidos, mucosas, gemidos, pelos, fluidos.
E paz.
E assim, nessa entrega, ficamos um.

Palavras são de água

Renata Luciana


Borboletas vagueiam aqui
enquanto o teu barco navega
Saudade do teu gosto de mar
na minha língua de pétala

Suspiro

Ribeiro Pedreira

e o vento da madrugada me traz um perfume
de querer que salta da tua cama

Insônia

Ribeiro Pedreira

Subitamente,
uma angústia me veste
com seu couro pesado
e me faz sentir um medo
de ter o peito decepado
de me ver fora do trilho
de naufragar no vazio
de não ter-te ao meu lado
Hoje amanheci chuva

olhos molhados do descanso
corpo vazio das horas
em dias assim
manhã parece noite
acordo silêncio

Quarto-crescente

Ribeiro Pedreira

Essa noite
inverti a lua
e vi seus olhos
sorrindo no quarto
crescente

Dama...


no escuro da noite a nos envolver

Coisa de pele

Ribeiro Pedreira

pele em fogo
acende a alma
queima a flor
derrete a calma
aquece o amor

esquenta a saudade
reluz à distância
fervilha o desejo
e flamba a dor.
Adormeci...

e acordei poema para ti

Borboletas

Ribeiro Pedreira

borboletas
alçam seus voos
tortuosos e sem pressa
ao redor
do garoto que sonha
de braços abertos
acordado à beira mar

sina de planalto
o leva ao encontro
da encantada borboleta
que carrega em suas asas
saudade e certeza.

sábado, 15 de maio de 2010

Além da brincadeira

Renata Luciana

Eu quero alguém que quando acabe fevereiro
O ano inteiro venha comigo morar
Quero um amor que vá além da brincadeira
E que depois da quarta-feira
Ainda queira namorar


Ondulações

Renata Luciana
Desenha o teu corpo no meu
abocanha os meus sentidos
segue
ondas de calor e gozo
mudar a voz e a pele
camuflada no teu ser


Degustar

Ribeiro Pedreira

Culinária suculenta
sabores variados
de ti

Alcova posta

Sirvamo-nos
em porções generosas
Bon appétit

No sol levante

Renata Luciana
Ausência instalada
sentida
coração segue o descompasso
No tempo que não lhe tenho
vento que sopra faz frio
Me abraça
carrega
o teu corpo para minha
casa

Incidental

Ribeiro Pedreira

Há uma faceirice
no olhar
uma entrega no sorriso
e um encanto
em todo o ser

Aromas e sabores,
mistérios desvendáveis,
aguardam horas marcadas

enquanto noites são preenchidas
com encontros virtuais
de incidentais melodias.

Você e o mar

Renata Luciana

entre o teu oceano e o meu
água que escapa e vai
respiramos fundo
sorrimos música
mania do querer
até em baixo d´água

Fluidos

Ribeiro Pedreira

Se a distância é líquida
há tempo de fluir
como um rio turbulento
e banhar-te em águas calmas

Se a distância é líquida
será tempo de maré
e de sorver o sal
que sairá de nós

Se a distância é líquida
haverá tempo de chuva
infiltrando em teu solo
penetrando teus lençóis

Se a distância é líquida
há solidez na sede do amor

O ímpar que há nos pares

Renata Luciana

Dopava-se
insistentemente
com as drágeas
do amor.
Efeitos colaterais
rasgavam-lhe
os sentidos.
Amor,
lascinante,
amor,
entorpecente,
ópio.

Aro
vestígios meus
rotas calmas

torto mundo
teu avesso
minhas promessas
ocultas